domingo, 12 de maio de 2013

MÃE!

Mãe

 Mãe não entende se você não come tudo que está no prato.
 Mãe não aceita desculpas do tipo 'Se os outros podem, por que eu não posso?'.
 Mãe responde: 'Os outros não são meus filhos'.
 *****
 Mãe adora ouvir o barulho da fechadura quando o filho chega.
 Mãe tem cheiro de banho, tem cheiro de bolo, tem cheiro de casa limpa.
 ***** 
 Mãe fica assustada quando vê o caso daquela modelo que morreu de anorexia:

'Eu já falei  pra você comer tudo!'
 Mãe fica assustada quando lê notícia de assalto.

 Mãe fica assustada quando lê notícia de  acidente.
 Mãe fica assustada quando lê notícia de briga.
 Mãe fica assustada quando lê notícia.
 Mãe fica assustada.
 *****
 Mãe não está nem aí para o que os outros pensam.
 Mãe foge com o filho  para o Egito, montada num burrico.

 Mãe tem sonho.
 Mãe tem pressentimento.
 Mãe tem sexto sentido – e sétimo, oitavo, nono, décimo.
 Mãe não faz sentido (para quem não é mãe).
 *****
 Mãe chora ao pé da cruz.
 Mãe chora em rebelião.
 Mãe chora se o filho é messias ou bandido.

 Mãe acredita.
 Mãe não pode ser testemunha no tribunal.

 Mãe é café com leite.
 Café com leite, pão com manteiga, biscoito, bolacha de água e sal, banana cozida.
 E ainda faz você levar um pedaço de bolo pra casa.
 *****
 Mãe só tem uma, mas é tudo igual.

 Mãe espera o telefone tocar.
 Mãe espera a campainha tocar.
 Mãe espera  o resultado do vestibular.
 Mãe espera o carteiro.
 Mãe moderna espera e-mail.
 Mas espera.

 Mãe sempre espera.
 *****
 Mãe ama.

 Assim, verbo intransitivo, como queria Mário de Andrade.
 Porque, se é mãe, já se sabe o que ela ama.
 A culpa é da mãe, dizem os freudianos superficiais.
 Os verdadeiros freudianos sabem que, sem mãe, nada feito.
*****
Uma amiga costuma dizer: 'Pai é palhaço, mãe é de aço'.

A frase é interessante, porque o aço é uma liga de ferro e carbono.
Ferro é o símbolo da força; carbono é o elemento presente em todos os organismos vivos.
A mãe constitui a liga entre a fragilidade e a força do indivíduo.

Não há algo mais vulnerável e mais sólido  que a maternidade.
Mãe é de aço.
*****
A esta altura, você deve estar perguntando:

'Mas por que esse cara está falando tanto de mãe?'
A verdade é que eu não sei.
Talvez seja porque a palavra mãe não tenha equivalente.
Já notaram? Mãe só rima com mãe.
  
( sem autoria conhecida )

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O VOO DA ÁGUIA!

Imagem retirada da net.


O VOO DA ÁGUIA

Entre as aves, a águia é a que vive mais, cerca de setenta anos. Mas para atingir a essa idade, aos 40 ela deve tomar uma difícil decisão: nascer de novo.
Pois aos 40- anos unhas ficam compridas e flexíveis, dificultando agarrar as presas com as quais se alimenta. O bico, alongado e pontiagudo, se curva. As asas, envelhecidas e pesadas, dobram-se sobre o peito, impedindo-a de empreender voos ágeis e velozes.
Restam à águia duas alternativas: morrer ou passar por uma dura prova, ao longo de 150 dias. Essa prova consiste em voar para o cume de uma montanha e abrigar-se num ninho cravado na pedra. Ali, ela bate o bico contra a pedra até quebrá-lo. Espera, então, crescer o novo bico, para poder arrancar as suas unhas.
Quando as novas unhas despontam, a águia puxa as velhas penas e, após cinco meses, crescidas as novas, ela atira-se novamente a voo, pronta para viver mais trinta anos.
Aprendi que, ao longo da existência, a possibilidade de nossa sobrevida depende, muitas vezes, do seguir o exemplo da águia. Quem se entrega, abatido, ao peso do sofrimento e das dificuldades, tende a abreviar seus dias. Deixa de viver como quem voa e passa a sobreviver como um réptil que rasteja.
Reaprender a voar é ousar recolher-se para começar de novo. Eis a sabedoria de todas as religiões tradicionais ao exigir de seus noviços um tempo de reclusão. O mesmo ocorre em muitas nações indígenas, quando o jovem, para ser considerado adulto, é recolhido a uma cabana isolada, onde o xamã o submete a provas e o introduz a conhecimentos específicos.
Mas é preciso voar até a montanha. De cima, vê-se melhor. Talvez por isso Deus, ao criar o ser humano, tenha colocado a cabeça acima do coração. Ver com as emoções é correr risco de desfigurar os desenhos. Os contornos mostram-se muito mais nítidos quando observados com serenidade.
E saber esperar. Primeiro, ousar perder o que envelheceu: o bico, as unhas, as penas. Despojar-se do que atravanca os nossos passos. Segundo, aguardar pacientemente o tempo da maturação. Enfim, dar o salto pascal, abrir as asas para a vida e, sem medo, empreender a voo rumo a novos horizontes.

(do livro Alfabeto, Frei Betto, Ed. Ática).